PENSAMENTOS GEOGRÁFICOS do PIBIDIANO DE GEOGRAFIA JÚNIOR CESAR
"Pra você que faz cara feia quando eu digo que faço GEOGRAFIA ou solta um "Hum, que legal" extremamente irônico...
Só tenho a dizer que a amplicidade dessa ciência me torna a cada dia uma pessoa melhor e aumenta ainda mais o meu amor pelas diversas Geografias que rodeiam a todos. ... Minha graduação me permite ousar a te falar um pouco sobre o universo ou da formação da Terra. Posso te explanar sobre a dicotomia do urbano X rural ou te fazer me odiar falando de política. Posso ainda demonstrar como a dispersão dos biomas estão intimamente ligados à composição do solo, ao clima e dentre outros fatores. Posso te ensinar a diferença de clima e tempo e te fazer perceber o quanto é engraçado quando você diz "Como está o clima hoje?" e te aborrecer falando de economia ou dos males do capitalismo. Posso mostrar rochas, minerais e o dinamismo das formas e estruturas do relevo. Posso ainda, descobrir contigo outras cidades, estados, países e continentes, e outros planetas também! Conto histórias também, do PR, do Brasil e do mundo e quebro a cabeça com problemas matemáticos da nossa amiga Cartografia. Questiono os problemas da educação geográfica e modifico meu modo de ensinar, para despertar a busca sagaz em aprender Geografia. São tantas ciências que a Geografia engloba, que posso ter me esquecido de algo que está ao meu domínio. Mas é isso, não existe uma ciência melhor do que a outra, mas se existisse, a Geografia seria uma forte candidata! A Geografia mexeu comigo e me fez amá-la incondicionalmente. Enfim, a Geografia é uma mãe que te acolhe e te faz refletir, questionar e propor soluções para o mundo. Ela está em toda parte, até mesmo dentro de você."
GEOEDUCAÇÃO
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"Temos duas educações: uma para a elite e
outra para o povo"
Para especialista, escolas brasileiras são de má qualidade ou falham em educar integralmente, ensinando o pensamento crítico
Por Marcos de Aguiar Villas-Bôas Da Carta Capital
Dora Incontri é jornalista pela Cásper Líbero, mestre, doutora e pós-doutora em Filosofia da Educação pela USP, sendo hoje uma das maiores autoridades do País na defesa de uma grande reforma da educação que considere o ser humano em sua integralidade, proposta baseada em autores como Comenius, Jean-Jacques Rousseau e Johann Heinrich Pestalozzi, objeto de suas pesquisas acadêmicas.
A sua proposta educacional, que vem procurando aplicar na Universidade Livre Pampédia, da qual é coordenadora geral, envolve, por exemplo, uma perspectiva interdisciplinar, o desenvolvimento da espiritualidade e a autonomia do ser
Você poderia falar um pouco sobre a Universidade Livre Pampédia e a influência de Comenius?
Dora Incontri: Comenius foi um educador e pensador visionário do século XVII, que pretendia uma educação universal, integral e plural. Tinha um projeto de paz mundial, foi o idealizador de um órgão internacional pela paz, portanto, um precursor da ONU, e queria também uma língua internacional. Zammenhof se inspirou nele para criar o Esperanto.
A Universidade Livre Pampédia se pretende um espaço alternativo de educação, em nível superior, cujo objetivo é favorecer vivências pedagógicas diferentes para adultos e ao mesmo tempo divulgar ideias de transformação pedagógica e social.
A integralidade e a interdisciplinaridade propostas por esse projeto de Universidade Livre é inspirada em Comenius; assim, também inclui a dimensão espiritual do ser humano. Ou ainda, inclui dar voz às diferentes correntes de pensamento – tradições espirituais diversas, vertentes filosóficas espiritualistas ou materialistas – num diálogo aberto e aprofundado.
As Universidades convencionais têm guetos ideológicos onde não se pode penetrar com ideias diferentes – o pesquisador é obrigado a direcionar suas produções dentro da camisa de força imposta pelo orientador, pelo departamento, pelo grupo a que o pesquisador pertence. Não há liberdade de pensamento e de produção. É tudo muito engessado e fechado. Por isso, a ideia de uma Universidade Livre.
Além disso, eu trabalho com formação de educadores há muitos anos e percebi que só a aprendizagem de teorias de uma educação diferente da tradicional não adianta. É preciso que as pessoas experimentem por si mesmas, como alunos-sujeitos, uma educação alternativa, para poderem praticar ideias novas.
Como descobriu Comenius, quem dá, inclusive, nome à sua editora?
Quando estava fazendo minha dissertação de mestrado na USP, sobre o educador suíço Pestalozzi, pesquisei na Alemanha e na Suíça e me lembro que um professor da Universidade de Nurembergue me disse: “se você quiser entender Pestalozzi, leia Comenius.”
Eu nunca tinha ouvido falar de Comenius. E conforme fui lendo suas obras, fui ficando encantada com sua atualidade, com sua profundidade. Hoje, quando se fala brevemente em Comenius nas faculdades de Pedagogia no Brasil, costuma-se apresentá-lo, de modo superficial, como pai da didática.
No entanto, suas ideias são muito mais amplas e não se trata de um conceito reducionista de didática; envolvem um conceito de ser humano integral e integrado, uma concepção de educação universal e permanente, que deve realizar o ser humano em suas dimensões cognitivas, morais, políticas, afetivas, sociais e espirituais.
Ele apresenta também uma ideia de pansofia – que poderíamos traduzir como sabedoria de tudo, entendendo que tudo está conectado no universo e, portanto, temos que procurar desvendá-lo, interligando nossos instrumentos de interpretação do mundo: a razão, a observação, a revelação… portanto, a filosofia, a ciência, a espiritualidade.
Diante da quantidade de informações existente hoje, seria realmente possível ensinar tudo a todos? Essa não seria uma bandeira mais bem aplicada quando Comenius viveu, período no qual a maior parte da população sequer era alfabetizada?
Ao contrário. Somente hoje, com a internet e a disponibilização aberta do conhecimento, é que se pode oferecer o acesso a esse "tudo" a que se referia Comenius. Quando ele propunha essa espécie de slogan, pensava na democratização do conhecimento e não que todos tivessem que saber tudo. Tinha muitas ideias interessantes a respeito, algumas das quais só são possíveis de realizar num mundo global, interconectado e virtual, como este em que vivemos.
Essas ideias estão no livro de sua autoria que, pela primeira vez publicamos no Brasil, em 2014, Pampédia. Uma obra-prima que, claro, têm seus contextos históricos, mas que também traz muitas propostas ainda atuais e necessárias. Temos um outro livro publicado pela Editora Comenius, de Luis Colombo, que trata dessa questão de como só o mundo virtual pode traduzir plenamente a ideia comeniana: Comenius, a Educação e o Ciberespaço.
Você entende que há uma linha de continuação em Comenius, Rousseau, Pestalozzi e Rivail? O que os une?
Eu defendi essa linha de descendência intelectual em minha tese de doutorado na USP – sobre Pedagogia Espírita – e ela não é de jeito nenhum arbitrária. É histórica, em primeiro lugar, porque Hippolyte Léon Denizard Rivail (depois Allan Kardec) estudou com Pestalozzi no castelo de Yverdon e foi mais tarde divulgador de sua pedagogia na França.
Pestalozzi, por sua vez, cita textualmente em suas obras sua dívida para com Comenius e Rousseau. Há várias ideias comuns que perpassam esses autores. Vou citar algumas: foram eles que firmaram, muito antes de Piaget, a concepção de que a criança é um ser em desenvolvimento e precisa ser observada e tratada como tal. Antes desses grandes educadores, as crianças eram consideradas adultos em miniatura.
Todos eles também encaravam a educação como instrumento de transformação social. Estavam preocupados com as injustiças sociais de suas respectivas épocas – como devemos estar também ainda hoje, porque, infelizmente, as injustiças continuam – e desejavam uma sociedade melhor.
Eles também enxergavam na educação um meio de viabilizar o projeto de um mundo mais igualitário e fraterno. Todos também propunham para isso uma educação diversa da tradicional, que vem sendo praticada até hoje, uma espécie de formatação do ser humano para a submissão e o trabalho no mercado.
Eles queriam uma educação em que a criança pudesse desenvolver suas potencialidades de maneira autônoma, integral, com liberdade e afeto. Comenius trata mais da integralidade. Pestalozzi e Rivail o seguem. Rousseau trabalha muito a ideia de liberdade e Pestalozzi foi o grande introdutor do afeto na educação. Ele próprio, amorosíssimo, fez do amor pedagógico um dos pilares de suas práticas.
Considerando que o foco na experiência, e no desenvolvimento das faculdades naturais por meio dela, era um dos pilares da educação daqueles autores; a educação dogmática, teórica e abstrata do Brasil seria bastante contrária à proposta deles e um dos seus principais problemas?
Difícil dizer quais os principais problemas da educação no Brasil. Mas, pincemos alguns, que saltam à vista. Primeiro, desde a chegada dos portugueses aqui, sofremos de duas doenças crônicas:
1) não somos uma sociedade que valoriza a educação, por isso, não há investimentos, vontade, muita gente engajada em trabalhar por uma educação melhor…
2) temos duas educações: uma para a elite e outra para o povo, que permanece sem acesso a uma escola minimamente de qualidade. Esforços aqui e acolá, idealistas e militantes aqui e ali, mas, no grosso, temos uma elite educada em escolas razoáveis – apesar de que não formam integralmente, nem eticamente, nem com autonomia e pensamento crítico – e temos uma escola pública de má qualidade, porque não interessa aos poderes instituídos que a população aprenda a pensar.
Durante alguns períodos da história, houve uma escola pública melhor, quando a classe média a frequentava, mas estamos vivendo um momento sombrio em que o que restava de uma proposta de escola pública um pouco razoável está sendo desmontado por esse (des)governo, que chegou para deixar um marco escuro na história do Brasil.
Isso, quanto aos aspectos políticos e sociais da educação brasileira, quanto aos métodos de ensino, quanto à maneira como é feita a escola, sejam as públicas, sejam as particulares, a quase totalidade delas está dentro do modelo tradicional, com lousas, carteiras enfileiradas, provas, notas, aulas desinteressantes e descontextualizadas de 50 minutos – escolas em geral feias, sem verde, sem liberdade de escolha, chatas e completamente fora do século XXI. Para, de fato, mudar o Brasil pela educação, temos que torná-la nossa prioridade, familiar, pessoal, coletiva, social, política e temos que reinventar a escola. E a escola tem que ser centrada no ser humano, no seu desenvolvimento, e não no conteúdo, no vestibular, no mercado…
Para especialistas, professores devem adotar a pesquisa como princípio pedagógico
O papel da pesquisa na formação dos professores foi discutido na sexta-feira, na Reunião Regional do Cariri, em Crato, CE. Os debatedores defenderam a valorização e, também, maior participação dos professores nos processos de definição de políticas educacionais. (Foto: Chico Gomes/SECITECE)
O debate sobre a formação de professores e avaliação do ensino superior, realizado na sexta-feira, 5 de maio, durante a programação da Reunião Regional da SBPC no Cariri, foi um dos mais disputados pelo público – mais de 250 pessoas participaram da discussão. O interesse tem um bom motivo: com 17 cursos de licenciatura, a Universidade Regional do Cariri (URCA), no Ceará, é uma referência para a educação da região. Debateram o assunto Marcelo Câmara dos Santos, diretor de Formação de Professores da Educação Básica da Capes, Luiz Roberto Liza Curi, presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CNE), e José Fernandes de Lima, professor da Universidade Federal do Sergipe, e ex-presidente do CNE.
“A maioria dessa plateia está ligada aos cursos de formação de professores, de licenciatura”, ressaltou Lima. De acordo com ele, a questão da formação dos professores é um assunto recente, mas é um ponto crucial na cadeia de produção de conhecimento. “Sem investimento na formação, sem valorização dos professores, não vamos chegar a lugar nenhum”, afirmou.
Santos defendeu a utilização do método de pesquisa como instrumento de aprendizagem, para a produção do que ele chama “conhecimento descontextualizado”. “O objetivo é que o sujeito saia da escola com o conhecimento descontextualizado, capaz de mobilizar o conhecimento adquirido na escola para poder resolver os problemas diversos que surgem em seu dia-a-dia”, disse.
Concordando com Santos, Lima defende a adoção da pesquisa como princípio pedagógico e acrescentou que o professor pesquisador é capaz de criar métodos na interação com os alunos. A formação continuada, nesse sentido, segundo ressaltou, é fundamental, uma vez que o professor, continuadamente, e cada vez mais, se depara com novas tecnologias e novas realidades, que precisam ser incorporadas a suas atividades. “É preciso aprender como se faz ciência. As pessoas confundem muito o processo científico com o produto”, observou.
Curi, por sua vez, também defendeu a necessidade de se diversificar a prática do ensino, e, especialmente, os currículos nas diferentes instituições. O presidente do CNE discorreu sobre o papel da avaliação na expansão do ensino superior pelo País e sua importância na definição de políticas públicas. Segundo ele, é fundamental que exista um diálogo amplo entre quem faz as políticas públicas e os atores na ponta dessas políticas – professores, gestores de universidades. Esse diálogo contribuiria para avaliar de que maneira os currículos definidos contribuem para a permanência dos estudantes nos cursos – hoje, segundo demonstrou, dos 8 milhões de estudantes que se matriculam no ensino superior no País, apenas 1, 2 milhões concluem os cursos.
“Não há participação ativa dos atores na construção desses currículos. Os currículos são feitos por diretrizes, mas são todos iguais. E, daí, ninguém reconhece uma universidade por seu currículo”, observou, criticando que os currículos não são avaliados: “As avaliações são baseadas em fatores quantitativos, não se avalia a construção do conhecimento, nem mesmo a qualidade dos egressos”, afirmou Curi.
A exclusão digital (oposto de inclusão digital) é um conceito que trata da desigualdade econômica e social no que diz respeito ao acesso, ao uso ou ao impacto da informação e das tecnologias de comunicação.
Também chamado de brecha ou de fissura digital, o conceito analisa o abismo que separa as camadas das sociedades que ficaram à margem da chamada sociedade da informação e da expansão das redes digitais.
Em entrevista, Manuel Castells discute o tema com base em suas pesquisas. O autor de A era da informaçãoafirma que, graças aos smart phones, a brecha digital estaria quase superada: "Ela é principalmente uma brecha de idade. Quando a minha geração desaparecer, o acesso será universal."
Porém, enfatiza o sociólogo, no Brasil, a questão não é apenas o acesso, mas sim a educação para utilizar as ferramentas: "um país sem educação utiliza a internet para fazer 'estupidez'. Isso a internet não pode resolver, isso só pode ser resolvido pelo sistema educacional." Confira abaixo a entrevista:
Dados do IBGE divulgados em 2013 apontam que mais da metade dos brasileiros ainda não tem acesso a internet em seus domicílios. Como isso influencia na inclusão social e na participação da construção de políticas públicas? Manuel Castells: A imensa maioria dos brasileiros tem acesso à internet. O que eles não têm é internet instalada em sua casa, mas têm internet na escola, nos cibercafés, em seus smartphones. A maioria dos brasileiros com menos de 30 anos tem um smartphone, mesmo que sejam pobres, porque para eles é mais importante ter esse aparelho do que ter muitas outras coisas.
Existe um dado confiável em nível global que é: 50% da população adulta do mundo tem um smartphone atualmente. A projeção para 2020 é de que a porcentagem seja de 80% da população adulta do mundo. Portanto, a difusão de smartphone no Brasil é também, no mínimo, de 50% da população adulta. E o smartphone por definição tem acesso à internet, porque senão não é “smart".
As estatísticas tradicionais de uso de internet são absolutamente antiquadas porque contam a internet nas casas das pessoas e hoje não é assim. A maior parte das pessoas não usa a internet em casa, mas sim no smartphone, no trabalho, na rua. Então, a chamada brecha digital está praticamente superada. Ela é principalmente uma brecha de idade. Quando a minha geração desaparecer, o acesso será universal.
O problema é a capacidade de atuar através da internet, que depende, principalmente, do nível educativo e cultural das pessoas. É nisso que está o problema do Brasil: o sistema educativo.
Um país educado com internet progride. Um país sem educação utiliza a internet para fazer “estupidez". Isso a internet não pode resolver, isso só pode ser resolvido pelo sistema educacional.
Levando em conta as transformações sofridas pelo jornalismo nos últimos anos, como pode evoluir a construção das notícias de maneira colaborativa, com a participação efetiva dos usuários? Manuel Castells: As notícias já não são formadas pelas agências de notícias ou os jornalistas profissionais individuais, são um conjunto de pessoas: são os jornalistas profissionais, são as agências de notícias, são os cidadãos jornalistas que enviam informações.
Os jornais em papel, esses, sim, estão totalmente obsoletos. Não o jornalismo, não o jornalismo online, não a capacidade constante de gerar notícias, mas para que você vai esperar a manhã do dia seguinte para ler uma notícia quando você pode ler na internet em tempo real?
Eu sinto muito porque gosto muito de ler o jornal de manhã, com um cafezinho. Isso é um pequeno luxo, que será cada vez menos possível porque os preços subirão muito, já que só uma determinada classe pode ter esse prazer. Mas não é um prazer informativo, é um prazer sensorial, de tocar o papel do jornal. E para os jovens, isso não interessa.
Os jovens, ao contrário do que se pensa, leem muito mais notícias que os outros, porque leem vários jornais e fazem seu próprio jornal eletrônico, que muda constantemente. Há um mundo obsoleto, que é o dos jornais impressos, que está desaparecendo e que se conservará apenas em níveis de publicações de prestígio, por razões de prestígio político e empresarial-informativo.
No caso da televisão, mesmo que haja muitos canais, eles não se comparam com a diversidade de informação e de entretenimento que se pode encontrar na internet. Os jovens assistem a televisão? Sem dúvidas, veem muito mais televisão que antes, mas por internet.
Outra coisa muito grave: a maioria das faculdades de comunicação e jornalismo continuam ensinando como na Idade Média, sem ter entrado no mundo digital. Então os pobres jornalistas profissionais têm que aprender por eles próprios sem que haja mestres possíveis porque os senhores catedráticos de sempre continuam pensando que a teoria da comunicação precisa ser baseada na retórica, na análise linguística, e não na transformação da comunicação.
Mudanças profundas ocorreram em escala mundial nas últimas décadas do século 20, entre elas o avanço da tecnologia de informação, a globalização econômica e o fim da polarização ideológica nas relações internacionais.
Diante desse cenário, o sociólogo francês Edgar Morin, hoje com 95 anos, defende que a maior urgência no campo das ideias não é rever doutrinas e métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, Morin propõe um dos conceitos que o tornaram um dos maiores intelectuais do nosso tempo: o da complexidade.
Em entrevista, o pensador critica o modelo ocidental de ensino que, segundo ele, separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. Para Morin, as disciplinas fechadas ensinam o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas impedem a compreensão dos problemas do mundo e de si mesmo. Confira abaixo:
Na sua opinião, como seria o modelo ideal de educação? Edgar Morin: A figura do professor é determinante para a consolidação de um modelo “ideal” de educação. Através da Internet, os alunos podem ter acesso a todo o tipo de conhecimento sem a presença de um professor.
Então eu pergunto, o que faz necessária a presença de um professor? Ele deve ser o regente da orquestra, observar o fluxo desses conhecimentos e elucidar as dúvidas dos alunos. Por exemplo, quando um professor passa uma lição a um aluno, que vai buscar uma resposta na Internet, ele deve posteriormente corrigir os erros cometidos, criticar o conteúdo pesquisado.
É preciso desenvolver o senso crítico dos alunos. O papel do professor precisa passar por uma transformação, já que a criança não aprende apenas com os amigos, a família, a escola. Outro ponto importante: é necessário criar meios de transmissão do conhecimento a serviço da curiosidade dos alunos. O modelo de educação, sobretudo, não pode ignorar a curiosidade das crianças.
Quais são os maiores problemas do modelo de ensino atual? Edgar Morin: O modelo de ensino que foi instituído nos países ocidentais é aquele que separa os conhecimentos artificialmente através das disciplinas. E não é o que vemos na natureza. No caso de animais e vegetais, vamos notar que todos os conhecimentos são interligados. E a escola não ensina o que é o conhecimento, ele é apenas transmitido pelos educadores, o que é um reducionismo.
O conhecimento complexo evita o erro, que é cometido, por exemplo, quando um aluno escolhe mal a sua carreira. Por isso eu digo que a educação precisa fornecer subsídios ao ser humano, que precisa lutar contra o erro e a ilusão.
O senhor pode explicar melhor esse conceito de conhecimento? Edgar Morin: Vamos pensar em um conhecimento mais simples, a nossa percepção visual. Eu vejo as pessoas que estão comigo, essa visão é uma percepção da realidade, que é uma tradução de todos os estímulos que chegam à nossa retina. Por que essa visão é uma fotografia? As pessoas que estão longe são pequenas, e vice-versa. E essa visão é reconstruída de forma a reconhecermos essa alteração da realidade, já que todas as pessoas apresentam um tamanho similar.
Todo conhecimento é uma tradução, que é seguido de uma reconstrução, e ambos os processos oferecem o risco do erro. Existe outro ponto vital que não é abordado pelo ensino: a compreensão humana.
O grande problema da humanidade é que todos nós somos idênticos e diferentes, e precisamos lidar com essas duas ideias que não são compatíveis.
A crise no ensino surge por conta da ausência dessas matérias que são importantes ao viver. Ensinamos apenas o aluno a ser um indivíduo adaptado à sociedade, mas ele também precisa se adaptar aos fatos e a si mesmo.
O que é a transdisciplinaridade, que defende a unidade do conhecimento? Edgar Morin: As disciplinas fechadas impedem a compreensão dos problemas do mundo. A transdisciplinaridade, na minha opinião, é o que possibilita, através das disciplinas, a transmissão de uma visão de mundo mais complexa.
O meu livro O homem e a morte é tipicamente transdisciplinar, pois busco entender as diferentes reações humanas diante da morte através dos conhecimentos da pré-história, da psicologia, da religião. Eu precisei fazer uma viagem por todas as doenças sociais e humanas, e recorri aos saberes de áreas do conhecimento, como psicanálise e biologia.
Como a associação entre a razão e a afetividade pode ser aplicada no sistema educacional? Edgar Morin: É preciso estabelecer um jogo dialético entre razão e emoção. Descobriu-se que a razão pura não existe. Um matemático precisa ter paixão pela matemática. Não podemos abandonar a razão, o sentimento deve ser submetido a um controle racional. O economista, muitas vezes, só trabalha através do cálculo, que é um complemento cego ao sentimento humano. Ao não levar em consideração as emoções dos seres humanos, um economista opera apenas cálculos cegos. Essa postura explica em boa parte a crise econômica que a Europa está vivendo atualmente.
A literatura e as artes deveriam ocupar mais espaço no currículo das escolas? Por quê? Edgar Morin: Para se conhecer o ser humano, é preciso estudar áreas do conhecimento como as ciências sociais, a biologia, a psicologia. Mas a literatura e as artes também são um meio de conhecimento.
Os romances retratam o indivíduo na sociedade, seja por meio de Balzac ou Dostoiévski, e transmitem conhecimentos sobre sentimentos, paixões e contradições humanas. A poesia é também importante, nos ajuda a reconhecer e a viver a qualidade poética da vida. As grandes obras de arte, como a música de Beethoven, desenvolvem em nós um sentimento vital, que é a emoção estética, que nos possibilita reconhecer a beleza, a bondade e a harmonia. Literatura e artes não podem ser tratadas no currículo escolar como conhecimento secundário.
Qual a sua opinião sobre o sistema brasileiro de ensino? Edgar Morin: O Brasil é um país extremamente aberto a minhas ideias pedagógicas. Mas, a revolução do seu sistema educacional vai passar pela reforma na formação dos seus educadores. É preciso educar os educadores. Os professores precisam sair de suas disciplinas para dialogar com outros campos de conhecimento. E essa evolução ainda não aconteceu. O professor possui uma missão social, e tanto a opinião pública como o cidadão precisam ter a consciência dessa missão.
Modelo “professor fala e alunos escutam” é questionado por especialistas em educação. Educação de qualidade, dizem, foca no aprendizado individual
Imagine uma sala de aula. Se vier à mente um espaço em que um professor explica o conteúdo e 30 alunos sentados ouvem sem se mexer, pense de novo. Esse modelo de escola “industrial”, em que uma aula expositiva serve para todos, está com os dias contados. Embora ainda haja resistências tanto de professores, que querem continuar passando da mesma forma um conteúdo para a turma toda, como de pais e alunos, especialistas em educação afirmam que ao pensar em aprendizado, não se pode deixar de considerar as características individuais dos estudantes e a forma como cada um retém o conhecimento.
Essa educação com foco no ‘um a um’ é conhecida por vários nomes, como ensino “caracterizado” ou “personalizado”. O ganho principal da prática é o de levar em conta as etapas de desenvolvimento de cada estudante e, assim, alcançar um melhor desempenho.
“Com a vida mais urbana, a escola seguiu a padronização, funcionando como uma linha de produção. Mas essa escola onde soa uma sirene e todos fazem o mesmo já se mostrou ineficiente há um bom tempo. É impossível que 30, 40 alunos aprendam ao mesmo tempo quando alguém ensina de um jeito só”, explica o psicopedagogo Júlio Furtado, mestre em Educação e doutor em Ciências da Educação. “Nesse cenário, o ensino caracterizado se mostra uma saída interessante para o modelo de escola que se quer ter”.
Historicamente, o professor se viu como detentor do conhecimento, como alguém que tem o saber em sua cabeça e tem de transmitir para a dos alunos, que está vazia. Com a evolução da educação, quem pensa assim pode cair em uma depressão intelectual achando que será rebaixado para um simples orientador, explica Furtado. “Ainda formamos professores no padrão de 50 anos atrás, licenciaturas formam docentes especialistas em conteúdo, não em aprendizado. O professor que entendeu que seu papel é fazer o outro aprender faz aulas coletivas mais raramente, senta mais em pequenos grupos e diz, inclusive, que com isso passou a economizar a voz”, afirma.
Caminho
A primeira tarefa de um professor é buscar conhecer profundamente os alunos de sua turma, saber como agem, onde têm mais facilidade na aprendizagem, se retêm informações melhor ouvindo, visualmente ou interagindo em grupos ou sozinhos. Diante disso, é preciso ir além da aula expositiva, criar métodos ativos que foquem no aluno, de acordo com Josemary Morastoni, coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Positivo. Nesse sentido, o professor precisa estar em constante mudança, buscando novas formas de dar aula e jeitos diferentes de trabalhar com cada aluno. “Nas diretrizes curriculares, nós trabalhamos com a questão do pensar diferente, para que o professor saia do ‘quadradinho’. Diferentemente do ensino tradicional, focar nas possibilidades e não nas dificuldades facilita a aprendizagem do aluno.”
Imagine uma sala de aula. Se vier à mente um espaço em que um professor explica o conteúdo e 30 alunos sentados ouvem sem se mexer, pense de novo. Esse modelo de escola “industrial”, em que uma aula expositiva serve para todos, está com os dias contados. Embora ainda haja resistências tanto de professores, que querem continuar passando da mesma forma um conteúdo para a turma toda, como de pais e alunos, especialistas em educação afirmam que ao pensar em aprendizado, não se pode deixar de considerar as características individuais dos estudantes e a forma como cada um retém o conhecimento.
Essa educação com foco no ‘um a um’ é conhecida por vários nomes, como ensino “caracterizado” ou “personalizado”. O ganho principal da prática é o de levar em conta as etapas de desenvolvimento de cada estudante e, assim, alcançar um melhor desempenho.
“Com a vida mais urbana, a escola seguiu a padronização, funcionando como uma linha de produção. Mas essa escola onde soa uma sirene e todos fazem o mesmo já se mostrou ineficiente há um bom tempo. É impossível que 30, 40 alunos aprendam ao mesmo tempo quando alguém ensina de um jeito só”, explica o psicopedagogo Júlio Furtado, mestre em Educação e doutor em Ciências da Educação. “Nesse cenário, o ensino caracterizado se mostra uma saída interessante para o modelo de escola que se quer ter”.
O principal desafio desse modelo é mudar a mentalidade do educador. “Há tempos o professor tem a postura de preparar uma aula e, se os alunos não aprendem o conteúdo, surge uma série de justificativas para culpá-los”, afirma Isabel Parolin, psicopedagoga consultora educacional pela Educação Presente. “O maior obstáculo é alterar o conceito do que seja ensinar e aprender. O professor precisa entender que a boa aula não é aquela em que ele apresenta o conceito, passa atividades e cobrar na prova. A boa aula favorece que aluno pense sobre conteúdo e se aproprie do conhecimento”, diz.
Historicamente, o professor se viu como detentor do conhecimento, como alguém que tem o saber em sua cabeça e tem de transmitir para a dos alunos, que está vazia. Com a evolução da educação, quem pensa assim pode cair em uma depressão intelectual achando que será rebaixado para um simples orientador, explica Furtado. “Ainda formamos professores no padrão de 50 anos atrás, licenciaturas formam docentes especialistas em conteúdo, não em aprendizado. O professor que entendeu que seu papel é fazer o outro aprender faz aulas coletivas mais raramente, senta mais em pequenos grupos e diz, inclusive, que com isso passou a economizar a voz”, afirma.